50 anos da Universidade Nova de Lisboa
Sem Título – Bodies of Water
No âmbito das celebrações dos seus 50 anos e do lançamento do Programa Nova Cultura, a Universidade Nova convida a escultora Maria Ana Vasco Costa para uma intervenção no Campus de Campolide integrada no projecto estratégico da Universidade no campo da Sustentabilidade. A iniciativa tem o apoio à produção da Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual. A peça de Maria Ana Vasco Costa, formando um “plano de água” em cerâmica vidrada que conecta o relvado e o novo jardim polinizador, introduz no espaço do Campus, em diálogo com o edifício da Reitoria da Universidade Nova e com a sombra que projecta sobre o jardim, uma reflexão sobre a água que evoca os contrastes entre ausência e permanência, entre cristalização e movimento, e oferece assim um possível contraponto, artístico e figural, à reflexão da Universidade sobre a importância da água e sobre a sua progressiva e alarmante escassez.
Sem Título – Bodies of Water
O trabalho desenvolvido por Maria Ana Vasco Costa desde 2014 procura estabelecer ligações entre o fragmento e o material cerâmico, como forma de recolher uma colecção de memórias da sua relação com a natureza. As suas esculturas executadas em cerâmica vidrada são uma espécie de ensaio visual, poético e protocientífico, da paisagem transformada em cerâmica e desenho, que lembram formações geológicas, fragmentos rochosos ou pedaços de gelo a partir do trabalho sobre a cor, a profundidade, a temperatura, a variação e o som. O trabalho agora apresentado articula a memória das ilhas como paisagem metamórfica – as raízes açorianas de Maria Ana Vasco Costa e as paisagens vulcânicas da Islândia associam-se às formações rochosas da zona de Odemira ou às imagens dos glaciares. Um grande rectângulo de cor azul vidrada surge no relvado em frente à Reitoria como “plano de água” e demarca o espaço do jardim. O reflexo que caracteriza o vidrado e a relação da peça com o restante espaço ajardinado – pois a peça convive com a vegetação – tornam patentes as alterações da presença da matéria nas diferentes fases do dia, meses e estações do ano. Os elementos que compõem a obra – a rocha basáltica em estado bruto, o grande rectângulo vidrado – funcionam como um jardim dentro do jardim. Numa tentativa de “cristalizar” a imaterialidade de ambientes aquáticos e florestas, a artista criou um rectângulo composto de vários outros rectângulos, vidrados artesanalmente num azul profundo. O vidrado interage com a luz criando um ambiente de impermanência, como numa superfície aquática percorrida pelo vento e que reflecte a vegetação circundante.
A escassez da água e as alterações climáticas
Embora 70% do nosso planeta seja coberto de água, a água doce – que bebemos, com que tomamos banho e irrigamos os campos agrícolas – é incrivelmente rara. Apenas 3% da água do mundo é doce e dois terços estão guardados em glaciares congelados ou de outra forma indisponíveis para nosso uso. Cerca de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável hoje (Relatório ODS, 2022), e cerca de metade dam população mundial enfrenta grave escassez de água durante parte do ano (IPCC, 2022). Espera-se que estes números aumentem, agravados pelas alterações climáticas e pelo crescimento populacional (OMM, 2022). Ao ritmo atual, 1,6 mil milhões de pessoas ainda não terão acesso a água potável em casa até 2030, prazo para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6 – Garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos. A crise é pior nos países de baixo rendimento; estima-se que 70% da população da África Subsariana carece de serviços de água potável segura. A escassez de água tem um impacto maior sobre as mulheres e as crianças porque, muitas vezes, são elas as responsáveis pela sua recolha. Quando a água está longe, é necessário mais tempo para a recolher, o que muitas vezes significa menos tempo na escola, com maior impacto para as raparigas.
As alterações climáticas estão a mudar os padrões de precipitação em todo o mundo, causando escassez e secas em algumas áreas e inundações noutras. Muitos dos sistemas hídricos que mantêm os ecossistemas prósperos e alimentam uma população humana crescente estão sob pressão. A agricultura consome mais água do que qualquer outra atividade e desperdiça grande parte dela, devido a graves ineficiências. A Península Ibérica lida com a escassez de água desde sempre, mas a alteração do clima tem exacerbado padrões de seca projetando-se para o futuro graves períodos de escassez de água.