“Uma Densa Nuvem de Amor/ A Thick Cloud of Love” apresenta no dia 6 de Outubro pelas 19h00 três filmes, um contributo do festival de cinema Queer Lisboa – uma seleção de filmes históricos que densificarão as várias propostas e questões enunciadas.
Fatucha Superstar – Ópera Rock… Bufa
Realização / Director: João Paulo Ferreira
Portugal / Portugal, 1976, 43’
Longa-Metragem de Ficção / Feature Film
Beta Sp Pal
v. o. portuguesa s/ legendas
Guião / Screenplay: João Paulo Ferreira
Montagem / Editing: João Paulo Ferreira
Assistente de Realização / Assistant Director: Óscar Alves
Fotografia / Photography: João Paulo Ferreira
Letras / Lyrics: João Paulo Ferreira (adaptado de / adapted from Jesus Christ Superstar, de / by
Andrew Lloyd Webber)
Cenário / Set Design: Óscar Alves
Figurinos / Costumes: Óscar Alves
Produção / Production: Cineground
Intérpretes / Cast: Fefa Putollini, José Cabecinha, J. M. Rodrigues, João Carlos, Domingos Oliveira
“Embora a sua obra, iniciada em 1975, tenha acabado por focar muito mais fortemente questões políticas e sociais, João Paulo Ferreira realizou esta obra singular, Fatucha Superstar, num registo musical inspirado no Jesus Christ Superstar, de Andrew Lloyd Webber. Com a revolução ainda quente, Ferreira desconstrói aquele que foi um dos grandes alicerces do Estado Novo: as aparições
de Nossa Senhora de Fátima. Se por um lado, Fatucha Superstar é fiel à estética hippie do musical de Webber – e a uma geração portuguesa da altura –, já Fátima, ou Fatucha, é um sofisticado travesti que surge aos três pastorinhos de óculos escuros e descapotável.
O filme abre com imagens de peregrinos em Fátima. Mas apesar desta introdução em registo documental, o que João Paulo Ferreira nos propõe é que revisitemos o mito, contando-nos a sua
verdade acerca do mesmo. Num descampado, os três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco dançam em enorme alegria, até que Jacinta (de bigode farfalhudo) tem uma premonição. Mas é a
Francisco que Fatucha aparece. O rapaz imediatamente chama as suas irmãs para com ele testemunharem o estranho fenómeno. Fatucha canta aos pastorinhos, prometendo-lhes sucesso e
notoriedade no futuro. Mas Francisco, mais do que inebriado pelas promessas, apaixona-se por esta insinuante mulher, a quem dedica uma canção, em êxtase bucólico: “Eu sinto a minha cabeça
à roda, / o peito, espartilho, / não posso esquecer aquela gaja, / que é boa com’ó milho…” Surge então de novo Fatucha, também num solo, prometendo dar início à sua luta, não sem antes
consultar Deus, que reage assim à sua proposta: “Mas que grande debochada…” Quando Fatucha surge novamente aos pastorinhos, dá-se início ao milagre, aqui em forma de passos de mágica. Ela
faz surgir uma mesa, tira objectos de uma cartola, faz aparecer um sumo de laranja para os refrescar, transfigura Jacinta numa apelativa mulher. Mas algo não corre tão bem. Num passo mal
ensaiado, faz desaparecer Jacinta, levando os seus irmãos a escorraçá-la. Fatucha foge para o carro e a tragédia adivinha-se. Qual Isadora Duncan, o seu véu fica preso à roda. Fatucha parece ter-nos deixado.
A meio desta sua reinterpretação das aparições, João Paulo Ferreira interrompe a narrativa para um insert – anunciado por um efeito de luzes psicadélicas –, que nos remete para o presente.
Numa pista de dança, anjos, freiras e Deus, dançam despudoradamente. As personagens desta fábula entregam-se aos mais terrenos e carnais desejos. Num altar, ao fundo, a substituir a figura religiosa, esse outro objecto de culto bem mais pagão: um enorme falo. No final do filme, novo regresso ao tempo presente. Um grupo de amigos celebra Fatucha. Afinal, ela não morreu. Numa
derradeira homenagem, cantam-lhe em uníssono: “Oh Fatucha Superstar, porque andas tu o povo a enganar. / Oh Fatucha Superstar, olha que ainda te vão lixar”. J.F.
Os Demónios da Liberdade
Realização / Director: João Paulo Ferreira
Portugal / Portugal, 1976, 20’
Curta-Metragem de Ficção / Short Film
Beta Sp Pal
s/ diálogos
Guião / Screenplay: João Paulo Ferreira
Montagem / Editing: João Paulo Ferreira
Fotografia / Photography: João Paulo Ferreira
Som / Sound: João Paulo Ferreira
Produção / Production: Cineground
Intérpretes / Cast: Teresa Almeida, Domingos Oliveira, J. Manuel Ferreira
“No seio de uma família da alta burguesia vive-se um bizarro triângulo amoroso. Dois homens, uma mulher. Um casal e um homem estranho ao seio familiar. Um estranho está à boleia na
estrada e o outro convida-o a entrar no seu carro. Uma mão na perna denuncia tudo. Ela esperava-os em casa, um sumptuoso palacete. Um ensaio sobre as várias possibilidades e rituais de uma
liberdade recente, Os Demónios da Liberdade é também um manifesto de liberdade sexual. Mas os demónios ainda andam por lá. O amante que transporta os novos ventos para dentro da vida deste casal, é perseguido pelos fantasmas da moralidade e de um passado ainda presente, devidamente identificado com uma suástica na testa. Uma muito eficaz trilha sonora, aliada a um especial
cuidado na montagem e um enorme sentido cinematográfico na captação dos planos, enquadramentos e gestão do tempo, fazem desta curta-metragem um singular objecto para o seu
tempo. E passados 30 anos sobre este filme, não podemos deixar de reflectir, hoje, sobre alguns
aspectos da nossa sociedade e costumes onde marcas fortes de privação de liberdade parecem ainda persistir.” J.F.
A Cama
Realização / Director: Sinde Filipe
Portugal / Portugal, 1975, 22’
Ficção / Fiction
Cor / Colour
Digital
v. o. portuguesa, s/ legendas
M/16 / Over 16 yo
Guião / Screenplay: Sinde Filipe
Montagem / Editing: Emília de Oliveira
Fotografia / Photography: Moedas Miguel
Som / Sound: Raul Ferrão
Música / Music: José Luís Tinoco
Produção / Production: Artur Bourdain de Macedo
Intérpretes / Cast: Desirée, Rui Alberto, Adelaide João, Oswaldo Medeiros, Chico Bretz,
Professor Ferusa, Toni Morgon, António Sebastião
www.cinemateca.pt
Um casal de jovens, na impossibilidade de fazer amor de outro modo, por serem repelidos em diversas circunstâncias (como numa pensão duvidosa), compra uma cama e transporta-a durante quilómetros até uma praia – onde, extenuados, acabam ambos
por adormecer.
Cópia digitalizada pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. Medida integrada no programa Next
Generation EU.